terça-feira, 5 de julho de 2022

Os desafios para os palanques de Bolsonaro, Lula e Ciro nos estados.

Foto: G1

A pouco mais de 40 dias do início oficial da campanha eleitoral, que começa em 16 de agosto, Jair Bolsonaro (PL), Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) se articulam para assegurar palanques nos estados e ampliar as bases de apoio em todo o Brasil.

Na mais recente pesquisa Datafolha, de 23 de junho, Lula lidera com 47%, seguido de Bolsonaro, com 28%, e de Ciro, com 8%.

A situação envolve desafios: em Minas Gerais, por exemplo, Bolsonaro não pode subir no palanque de Romeu Zema (Novo). Zema é líder, com 48%, contra 21% do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), na mais recente pesquisa Datafolha entre os candidatos ao governo do estado. Isso porque o Novo, partido de Zema, tem candidato próprio à Presidência da República: Luiz Felipe D'Ávila.

Só que D'Ávila não pontuou na última pesquisa presidencial do Datafolha, de junho, enquanto Bolsonaro é vice-líder, com 28%, atrás de Lula, com 47%. O candidato do partido de Bolsonaro, Carlos Viana, vai mal na pesquisa eleitoral: ele tem 4% no Datafolha ao governo de Minas.

Lula, por exemplo, tem palanque dividido em Pernambuco: Marília Arraes, que deixou o PT no início do ano e é candidata a governadora pelo Solidariedade, declarou apoio ao ex-presidente. Mas o candidato oficial de Lula ao governo do estado é o deputado federal Danilo Cabral, do PSB de Geraldo Alckmin, candidato a vice-presidente com Lula.

No Ceará, o PT de Lula e o PDT de Ciro Gomes comandam juntos o governo do estado numa aliança desde 2006. Só que a eleição presidencial ameaça ruir essa união: o PT defende que a governadora Izolda Cela, do PDT, seja candidata à reeleição --ela é casada com um político petista e ligada ao ex-governador petista Camilo Santana.

Mas, se oficializada a candidatura de Izolda, ela terá que declarar apoio a Ciro, porque são do mesmo partido --o que deixaria Lula sem palanque oficial no estado. A ala do PDT mais ligada a Ciro Gomes quer Roberto Cláudio, ex-prefeito de Fortaleza, como candidato ao governo estadual. O PT local não descarta candidatura própria, o que encerraria a aliança de 16 anos com o PDT no estado.

Segundo Claudio Couto, cientista político da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, a eleição dividida entre Lula e Bolsonaro provoca um questionamento nos candidatos aos governos estaduais. Eles pensam duas vezes antes de declarar apoio explícito a um ou outro, diz o cientista, para não "se queimar com eleitor demarcando uma candidatura presidencial que pode tirar voto dele".

E há os desafios locais em regiões do país: "Ser apoiador de Lula no Centro-Oeste, por exemplo, é difícil nessa altura. Tem sido uma região com eleitor mais simpático ao Bolsonaro no geral. A mesma coisa com Bolsonaro no Nordeste, região mais apoiadora de Lula. A não ser que o político não tenha mesmo opção, tem gente que não tem como disfarçar quem defende no nacional", diz Couto.

Alianças

A oficialização será apenas em agosto, mas o PL de Bolsonaro indica aliança com PP e Republicanos, siglas que integram a base do atual governo. Braga Netto (PL) é o favorito para a vice-presidência.

O PT de Lula já firmou acordo com o PSB (do vice Geraldo Alckmin), PCdoB, Partido Verde, PSOL, Rede e Solidariedade. Os partidos trabalham em conjunto para construir o plano de governo da chapa Lula/Alckmin.

O PDT é o único entre os três mais bem colocados na pesquisa Datafolha que estará sozinho. Ciro Gomes tentou o apoio da 3ª via, mas não deve ter outras siglas em seu palanque nacional. O quadro repete 2018, quando o PDT teve na chapa Ciro e Kátia Abreu (à época filiada ao PDT e hoje no PP).

Veja a situação de cada presidenciável:

Bolsonaro (PL)

Foto: Ton Molina

Presidente negocia para que alguns partidos menores desistam da candidatura nacional para ter palanques em determinados estados. Outro desafio é convencer candidatos a governadores que não querem se indispor a Lula ou Ciro Gomes. Em quatro estados, dois ou mais candidatos tentam puxar para si e tirar dos concorrentes a ida de Bolsonaro a seus palanques.

Cenário:

. Minas Gerais: Bolsonaro não tem o palanque do favorito Zema - atual governador e favorito na disputa, Romeu Zema (Novo) não poderá ter Bolsonaro no seu palanque porque o Novo tem candidatura própria à Presidência. Bolsonaro terá apoio de Carlos Viana, de seu partido, que tem 4% no último Datafolha.

. Rio de Janeiro: sem ataques a Lula - o governador Cláudio Castro, do PL, partido de Bolsonaro, já disse que apoiará o atual presidente, mas que não criticará Lula, o principal adversário de Bolsonaro na disputa presidencial. Castro está empatado tecnicamente na liderança com Marcelo Freixo (PSB), o candidato de Lula, segundo o último Datafolha para governo do RJ.

. Nordeste comprometido: Bolsonaro não tem candidatos ainda no Rio Grande do Norte e em Sergipe --neste último, Valmir de Francisquinho era o nome escolhido para concorrer pelo PL de Bolsonaro, mas foi impedido de concorrer após condenação pelo TSE por abuso de poder econômico.

. Piauí: apoiado não dá palanque - o pré-candidato viabilizado com o apoio do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas), é Sílvio Mendes (União Brasil), que não quer ligar seu nome a Bolsonaro. O presidente tem um pré-candidato do PL, Coronel Diego, mas a disputa acirrada está entre Mendes e o candidato do ex-governador Wellington Dias (PT), Rafael Fonteles, que usa a imagem de Lula para atrair o eleitorado.

. Palanque duplo: parece bom, mas não é bem assim - candidatos a governador bolsonaristas disputam o apoio do presidente no Rio Grande do Sul (Onyx Lorenzoni, do PL, e Luiz Carlos Heinze, do PP), Rondônia (Marcos Rogério, do PL, e o atual governador Marcos Rocha, do União Brasil), Roraima (atual governador Antonio Denarium, do PP, Teresa Surita, do MDB, e Isamar Ramalho, do PSC) e Santa Catarina (governador Carlos Moisés, do Republicanos, Jorginho Melo, do PL, e o ex-prefeito de Florianópolis Gean Loureiro, do União Brasil). Por que o palanque duplo pode ser ruim: porque um dos candidatos pode tentar impedir que Bolsonaro vá ao palanque do rival, ainda que ambos defendam o presidente.

. Amapá: ruim para Bolsonaro, ruim para Lula - o estado tem a inusitada junção do PL de Bolsonaro e do PT de Lula no mesmo palanque. Os partidos de Bolsonaro e Lula vão apoiar o candidato a governador Clécio Luís (Solidariedade), favorito à corrida estadual. Ele não disse quem apoiará para presidente.

Lula (PT)

Foto: Bruno Rocha

O pré-candidato do PT tem pela frente palanques duplos a desfazer, assim como Bolsonaro --a disputa entre dois apoiadores locais pode trazer empecilhos ao presidenciável. Lula também precisará negociar em estados sem palanques definidos. O desafio é conciliar os interesses regionais dos seis partidos que formam a chapa Lula/Alckmin.

Cenário:

. Ceará: meio apoio ou fim da aliança com PDT - Lula disputa com Ciro Gomes o apoio do grupo governista, que tem na atual governadora, Izolda Cela (PDT), a candidata da esquerda no estado. Izolda é apadrinhada politicamente pelo PT e, ao assumir o cargo de governadora, em abril, disse que apoiaria Ciro Gomes. Ela é afilhada política de Camilo Santana, do PT, que antecedeu no cargo e concorrerá a senador. Ainda assim, uma pedetista na disputa tira o palanque oficial de Lula no Ceará. Pode piorar: o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e a ala ligada a Ciro Gomes defendem a candidatura a governador de Roberto Cláudio, também pedetista e ex-prefeito de Fortaleza. Cláudio é desafeto do PT. Os dois partidos mantêm uma aliança no estado desde 2006, e a escolha de Cláudio pode fazer os petistas lançarem candidatura própria.

. Pernambuco e Rio Grande do Sul: palanque duplo (parece bom, mas não é bem assim) - Em Pernambuco, Marília Arraes, que deixou o PT no início do ano, é candidata a governadora pelo Solidariedade e declarou apoio ao ex-presidente. Mas o candidato oficial de Lula ao governo do estado é o deputado federal Danilo Cabral, do PSB de Geraldo Alckmin, candidato a vice-presidente com Lula. Por que o palanque duplo pode ser ruim: porque um dos candidatos pode tentar impedir que Lula vá ao palanque do rival, ainda que ambos defendam o presidente. No Rio Grande do Sul, Beto Albuquerque (PSB) e Edegar Pretto (PT) surgem como interessados a representar a chapa Lula/Alckmin localmente. Os dois partidos não abrem mão de candidatura própria.

. Sem candidatos em estados bolsonaristas: em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estados com forte apoio a Bolsonaro, não há candidatos petistas ao governo

. Pará: Lula quer Helder, que declarou apoio a Tebet - o governador paraense é do MDB e declarou apoio a Simone Tebet, que tem 1% no último Datafolha. Lula tenta o apoio dele; para isso, conta que a candidatura de Tebet não decole e ela desista antes de agosto.

. Paraíba: Lula contra a chapa nacional - o PSB, do vice Alckmin, terá João Azevedo para a reeleição, enquanto Lula diz que apoiará Veneziano Vital do Rego (MDB) pela antiga ligação com o ex-governador petista Ricardo Coutinho. Nó a ser desatado.

Ciro (PDT)

Foto: Antônio Molina

Empenho do pré-candidato envolve trabalho maior do que os de Bolsonaro e Lula, segundo especialistas ouvidos pelo g1. Ciro terá de alavancar ao mesmo tempo a sua candidatura e a dos candidatos do PDT nos estados, pois o partido não tem aliança nacional com outra sigla. Estagnado na 3ª posição com 8 pontos na intenção de votos no último Datafolha, a missão é atrair apoio em eleições regionais tão polarizadas quanto a nacional.

Cenário

. Ceará - impasse: o presidente do PDT e a ala cirista do partido defendem a candidatura do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio ao governo do estado, o que daria a Ciro um palanque em seu berço político. A governadora Izolda Cela é do seu partido, o PDT, mas tem como padrinho político de seu grupo Camilo Santana, do PT de Lula. Ela quer ser candidata à reeleição.

. Em estados maiores, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o PDT não possui pré-candidatos fortes para disputar o governo. Segundo o último Datafolha, por exemplo, o candidato de Ciro e do PDT, Elvis Cezar, tem 1% na pesquisa em São Paulo. No Rio, o pedetista Rodrigo Neves é o terceiro, com 7%, distante de Castro e Freixo. Em Minas, Miguel Correa tem 2% da preferência do eleitorado, ainda segundo o Datafolha, longe dos favoritos Zema e Kalil.

. Indefinição: em estados como Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Roraima, Ciro ainda não tem palanque definido ou encaminhado para outubro.

. Piauí: apoio sem favoritismo - O PDT estará com Sílvio Mendes (União Brasil) no pleito ao governo do estado, mas sem ter contrapartida nacionalmente.

'Eleição crítica'

Claudio Couto, cientista político da FGV, diz que as eleições estaduais costumam ter dinâmica própria. O normal é não terem ligação direta com a nacional, quadro que ocorreu com mais força em 2018. Couto a define como "eleição crítica" por trazer grandes mudanças.

"A eleição de 2018 não é uma eleição típica, é muito particular. Houve a quebra da polarização solidificada no Brasil entre PSDB e PT, com o PSDB desaparecendo [nacionalmente]", afirma o cientista. Para ele, as disputas estaduais de outubro não sofrerão influência tão fonte quanto a nacional exerceu quatro anos atrás.

Colaboraram: Arilson Freires, Arthur Sobral, Álvaro Guaresqui, Bárbara Hammes, Cau Rodrigues, Eliena Monteiro, Eric Luís Carvalho, Jhonathan Oliveira, Marília Cordeiro, Paula Resende, Tacita Muniz, Thais Pimentel e Valéria Martins.

Fonte: g1/RN

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